domingo, 30 de setembro de 2007

Coquinho é bailarina

Coquinho me faz mergulhar num sono azul e impossível: em meio à floresta carrego o famoso cesto de flores; sigo em frente e não olho pra trás. O púrpura das flores ilumina o caminho arbitrário de minha frágil intuição. Coquinho inesperado. Coquinho reflete, como espelho d’água, a sombra de minha própria alma. E de repente, Coquinho se humaniza ao lado meu:
- “Você é uma menina a andar no cemitério”.
Nesse instante, meu mundo caiu. Tentei explicar-lhe que isso não era verdade:
- “É só uma impressão, só uma impressão...”.
Acordo impressionada. Em que consistiria tal revelação? Tive, por um momento, a certeza de que negava o que de modo algum posso continuar a esconder. Minhas mãos, trêmulas, frias, intocadas diante do primeiro passo a caminho do céu. Apenas uma impressão. Uma impressão que negra se espalha no cesto de flores. Anoitece na floresta embaçada. A floresta a gelar transpira através do orvalho úmido da terra fértil. O orvalho que nasce da noite é como uma semente medrosa. É a Lua espontânea da noite estrelada. É uma voz confusa que se perde no labirinto do pensamento.

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