sábado, 31 de janeiro de 2009

1959

Vi que os seus olhos são reais, assim como as suas mãos e as suas pernas. Olhei para o seu rosto e percebi que ele era real. Eu não pude ver os seus pés, mas tenho certeza de que também são reais. Sinto a falta de um ombro amigo, sinto a falta de flores, de sementes e rosas. Tem gente que não parece ser humana. Gente que joga feitiços, gente que tem um apelo hipnotizante. E ele bem sabe de tudo isso. Disseminam paixões desmedidas, mas se mostram incapazes de sentir um mínimo grau de apego, de ternura, e tratam o amor como um jogo de fantoches controlados pelo gelo, pelas pedras, por cetros, coroas e cadeados. Por isso anseio pelo seu rosto real, a abrigar olhos também reais, e percebo que o real é a essência das mais turvas fantasias. Ele pode ser o que for. Pode me matar de sofrer. Cega e enfeitiçada, um brinquedo para os dias menores, um enfeite particular. Que o faça. Mesmo assim. Seu encanto é mais poderoso, pois você tem todo o tempo todo do mundo para me enfeitiçar. Você não faz o mundo desabar todas as manhãs em que eu acordo com a garganta repleta de lágrimas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Love Addiction

Às vezes faço coisas que não sei explicar. E quanto a ti, oh dona do ar? Nunca fizeste um gesto sem o pensar? Uma reação espontânea, um sorriso fora de hora, um piscar de olhos inconseqüente, um fumar inexistente, uma queda do altar? Pois me diga, com a tua imensa sapiência pós-adolescente, o que achas dos puteiros colocarem estátuas de belas gregas na entrada, nas escadas, nas fontes artificiais? Tu a quem tanto agradam o os efeitos da simetria, o choque impossível da perfeição. Aceita, como já dito há muitas luas atrás, que uma virgem nada pode saber das aflições e sofrimentos do mundo. (para provar o teu tamanho apreço pela tradição). Não pagaste com o teu sangue o altíssimo preço do êxtase terreno, e pouco ou nada sabes de mitos e elegias, da suposta sobriedade do mundo, permeada pelo contínuo deslizar do tempo, nos templos, nos pêndulos, na tua própria morada. E verás que o céu já é mar.