terça-feira, 23 de setembro de 2008

Seis de Copas

Olhando para o teu rosto, eu diria que és um anjo, pois assim se descrevem os anjos aqui na Terra. Olhos claros, cabelos claros, pele clara. Claras as tuas feições. Serenas. Transparentes. Mas não tão claros os teus pensamentos. Por mais que a tua simplicidade espontânea seja confirmada desde o posicionamento dos astros no momento exato da tua aparição oficial dentro desse planeta. Olho para as nuvens, imaginando lírios num campo ensolarado. Que mais eu poderia esperar da vida além das flores e das nuvens e de todos os teus velados encantos? Ao redor, os computadores. Mentalizo ilhas tropicais em meio à seca. Procuro entender que não posso desejar para sempre o mesmo sonho. Nada é para sempre, assim aprendemos, ao que nos parece. Os anjos também não são para sempre? Este mundo é, tantas vezes, além de toda e qualquer compreensão. Sobretudo para mim, que sinto não pertencer a lugar algum. Não possuo o sustentáculo da identidade, e me esforço para parecer alguém, qualquer outra, outra qualquer, qualquer uma, apenas mais uma. Este lugar, um grande teatro, onde é difícil distinguir entre máscara e essência, entre o ser e o parecer, entre o céu e a terra, entre as tuas palavras escassas e a intensa profundidade que se esconde em teus traços bem marcados. Nada é para sempre, assim a vida nos dita. Mas será que não é para sempre esse aperto que não passa, depois de todos esses anos, depois de todas essas noites, depois de todas as trilhas repletas de folhas escuras e o céu fechado e nebuloso a pairar, soberano, e intermitente no horizonte? E quanto às sutilezas que o teu aceno mais discreto é capaz de despertar numa alma adormecida? Para sempre, a certeza de que tudo quanto parece não ser nada guarda em si a água da vida.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

São Paulo, SP

“Observo, atentamente, Paulo, ao teu nome envolto em plástico. Medito através da solidez da tua presença, mesmo quando os meus olhos não podem tocá-lo (pois bem sabes que os olhos são capazes de mover as montanhas). Sigo inebriada pelo deslizar das tuas palavras, ainda a ecoar por toda esta sala, por todos esses dias. Neste momento a vida é, para mim, Paulo, uma lembrança das sutilezas mais banais... É mistério dentro do óbvio. É magia num poço de monastério. És, agora, para mim, Paulo, mais concreto do que o asfalto de todas as ruas da cidade.”