sábado, 3 de abril de 2010

Procissão

Quando o soar dos sinos encosta nos meus olhos, Lua e sal se misturam gentilmente. As velas ajoelhadas espalham a luz da noite. Essa terna combinação, a vibrar pura e viva, fez nascer a alquimia. Dela também veio o mar e a espera. A lágrima que vem da terra não lamenta, apenas clama pela vinda do Sol.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Árvore-da-Vida

O ar tem um cheiro desbotado de algodão. É como eu comesse as minhas próprias roupas. E então você me diria que tecido não sustenta. E eu diria que ele também não engorda. E você me diria que não é saudável. E eu diria que deveria ser, pois ele também não é gostoso. Mesmo assim, você se renderia e diria que dá mesmo vontade de provar. Às vezes o ar tem um cheiro de chocolate, um cheiro de vida. E então a gente poderia plantar um monte de árvores de cacau.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fugaz

Às vezes ele me diz coisas bonitas. Pra esquecer. Que eu escrevo e não entendo a minha letra. Eu não sei o que eu queria dizer com aquelas palavras. O que eu teria feito a não ser me calar? O silêncio só existe quando a voz me falta. E ela some quando eu quero dizer. Que eu grito muito quando há visitas na sala. Pra dizer que eu queria estar em casa. Quem sabe ter uma sala. Divirto e comovo convidados, ainda que eu não tenha ido muitas vezes ao circo. Choro muito se maltratam os animais. Mesmo assim, uso protetor solar fator 30. Pra me proteger. Sou um animal estranho. Grito quando não é preciso, e me calo quando o mundo resolve me testar. Levanto novamente. Pra que possamos dizer. Dizer o que? E depois, sutilmente calar. Talvez seguirás o teu rumo. Vou tentar o melhor que puder. Tentar esquecer. Como se o ar e o oxigênio fossem assim gratuitos. Como se o ar que o homem respira fosse em si o retrato de uma nova vida.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sinaleiro

Olhos pretos, cílios de suspiro. Oh menino dos lábios bonitos!... Me leva para o seu mundo – o mundo das camisas azuis. Sua pele de menino me anima, um mimo adorável, um espelho cheio de carícias. Ninguém vai notar a nossa pele. Tenho em casa óleo e argila. Pode ser que mais velha eu me pareça, mas a mim você não pode enganar, oh menino erudito e de andróginas feições. Eu sei que você já é capaz de entender o azul. E de mergulhar – devagar – no infinito.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Noite Estelar

Dessa vez não olhei para o céu, e sim para a parede branca forrada de estrelas. Olharia para o brilho de suas auras se, nesse momento, porventura me faltasse luz. Continuo. Peço a Ele para que eu tenha força. De fazer o melhor dentro do que antes me seria impossível. Quando os meus desejos não puderem ser atendidos. Faz de mim um instrumento da Sua vontade, não da minha. Que eu mais console do que seja consolada. Que eu não queira ser consolada. Que eu não queira nem espere mais nada. Pensei tudo isso baixinho, sem nenhuma promessa, nenhuma solenidade. Small talk. Nem mesmo luz de abajur. Eu e as estrelas, a lua e eu, amém.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Saída

Não me rendo. E nem venha me dizer que valho menos que um peixinho empanado. A resignação é o ópio dos fracos. Num piscar de olhos é possível recobrar o sopro da vida.

Alquimia

Lembra sempre que a força que provém do teu misticismo não pára no fundo do mar, pois lá existe terra. Leva-o até as nuvens e além delas. Ensina-o a voar! Mas não volta muito tarde – lembra-te também de que o jantar já esfria sobre a mesa.