terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Tempo

Eu achei que era o céu, mas eu só era o reflexo cinzento do azul mais profundo do mar. Eu achava que era reflexo, mas era apenas uma sombra. Eu achava quer era o sono, que era a ti dormindo após injetar líquidos doloridos. Mas eu era o próprio líquido, e tu é quem eras o sono. Eu achava que poderia mudar o mundo. Quem nunca achou? Mas como mudar as luas e os carros e as marés? Orgânico demais. Sou tudo ao mesmo tempo. Sei que também não sou nada. Mediana. Expressivamente mediana. Especializo-me: Sou a margem, os rochedos, um pardal no Índico distante. Sou tudo quanto eu poderia ser, na medida em que te aproximas dos meus calcanhares. E ao piscar pálpebras e olhos, sou a superfície de um lago antigo. Milhares de anos depois, eu ainda estarei lá. Ninguém saberá, tão mudada estarei. Mesmo assim, serei a mesma, e ainda saberás exatamente onde me procurar.

domingo, 26 de outubro de 2008

Lundy

Olho para o céu e pergunto às estrelas o porquê da existência. Na cidade. Talvez seja menos, numa vila. O prateado do grande manto celeste me sussurra as mensagens silenciosas do vento. Entre o campo e a cidade, a ilha. Entre o chão e céu, supostamente as estrelas. Olho para o céu e, na falta das estrelas, me vejo conversar com o vento. Há muito a poluição já chegara ao vilarejo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Sete de Espadas

Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar eu te levaria pro meu quintal de medusas e te deixaria lá por uns tempos. Livre dos poros do mar, imerso no cloro do mar. Joguei muito cloro no mar. Pra te entender. Não dá pra pensar, nada mais, como assim não és Coquinho? (suspiros e mais platonismos...) Além de todas e quaisquer utopias, segues incauto e com o vento a endireitar-lhe os cílios salientes todas as vezes que neva no Equador. Quando eu crescer vou pedir aos anjos do céu para me protegerem de você. Vou pedir a eles também, que te protejam, pois pode ser que você vá precisar. Não é todo dia que se pode, ou não, escolher ter a vida em risco. (E boa viagem?!...) Aqui, tens razão, é muito fácil alguém se perder.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

São Paulo e as Brumas de Avalon

Às vezes é preciso, Paulo, retirar-se do mundo. Abrigar-se em águas claras e esquecer, por alguns instantes, de que há coisas das quais não podemos fugir. E nesse meio tempo, deixemos apenas, Paulo, que a natureza, através das recônditas memórias humanas, aja sobre os seres, transformando-os e cumprindo a sua missão.

(Dizem que a comunicação entre os homens é das maiores dádivas terrenas. Muito tenho a questionar. Menores as palavras, maiores os desentendimentos).

Ao olhar para o teu rosto e ouvir as tuas palavras, meu coração se encheu de uma alegria que eu não conhecia. (Há coisas que não podemos fingir). Mas os teus olhos estavam distantes. Acabaram de voltar de uma longa peregrinação, e lá muito sofreram. Teus olhos desejavam as brumas. Mesmo assim, expressavam os traços da paz.

E desde então, sigo, Paulo, enfeitiçada pela tua respiração, a evocar as águas claras e longínquas de Avalon. Enquanto eu puder sentir o pulsar dos teus olhos. E para tanto, Paulo, acredite: Não é necessário deixar a cidade...