quinta-feira, 23 de abril de 2009

Maio de 1989

E por mais que eu não possa compreendê-la, ainda assim posso vê-la com as mãos vazias a esperar por uma rosa que não veio. Também posso ver o inverso. Posso vê-la cansada e sozinha a brincar com uma rosa nas mãos. Por mais que ele a ame, assim como eu não posso compreendê-la, também ela não pode compreender aqueles gestos maiores de ternura e de devoção (tão avessos que parecem ser a ele). O amor é não obstante um vulto ininteligível, um espasmo, uma abstração. Por mais que ele tome conta de todo o seu ser, e lhe tome do corpo as forças, e dos músculos as formas. Não, não se pode compreendê-lo. E a sua expressão será, por consequência, sutil ou inesperada, nula ou turbulenta, e não sucumbirá diante do pó e da alquimia. Talvez ele te faça querer matar-se. Ou ainda em ser a luz que alimenta as estrelas (ou, ainda, as próprias estrelas imortais a iluminar a Terra). Tudo isso, ou ainda qualquer outra coisa. Qualquer coisa líquida que possa moldar-se muitas vezes, e infinitamente de incontáveis modos. Ainda tudo isso é amor.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Emocore

Mesmo que eu arrancasse todas as páginas do diário. Que eu apagasse tudo o que foi escrito, mesmo assim. Se eu queimasse todos os diários de todas as papelarias do mundo. Nada disso poderia arrancar de mim as páginas decompostas das coisas que me foram ditas, dos olhares amaldiçoados que me lançaram tal como marca de nascença. Nada me poderia curar, agora que estou doente e vazia de qualquer sentimento humano. Se ainda sou capaz de chorar, não é por mim mesma, nem pelo mau que a mim causaram. É algo inevitável, assim como o respirar, ou como o pulsar do coração. Algo que não pode ser controlado.

No entanto:
Se você olhasse para os meus olhos e dissesse que está tudo bem... Não pediria mais nada. Eu só queria que você me levasse até a cama para que eu pudesse dormir. Ao seu lado.