quinta-feira, 23 de abril de 2009

Maio de 1989

E por mais que eu não possa compreendê-la, ainda assim posso vê-la com as mãos vazias a esperar por uma rosa que não veio. Também posso ver o inverso. Posso vê-la cansada e sozinha a brincar com uma rosa nas mãos. Por mais que ele a ame, assim como eu não posso compreendê-la, também ela não pode compreender aqueles gestos maiores de ternura e de devoção (tão avessos que parecem ser a ele). O amor é não obstante um vulto ininteligível, um espasmo, uma abstração. Por mais que ele tome conta de todo o seu ser, e lhe tome do corpo as forças, e dos músculos as formas. Não, não se pode compreendê-lo. E a sua expressão será, por consequência, sutil ou inesperada, nula ou turbulenta, e não sucumbirá diante do pó e da alquimia. Talvez ele te faça querer matar-se. Ou ainda em ser a luz que alimenta as estrelas (ou, ainda, as próprias estrelas imortais a iluminar a Terra). Tudo isso, ou ainda qualquer outra coisa. Qualquer coisa líquida que possa moldar-se muitas vezes, e infinitamente de incontáveis modos. Ainda tudo isso é amor.

Um comentário:

Daniela Rodrigues Badra disse...

Por isso Camões dizia :
" Tão contrário a si é mesmo o amor"
;-)