sábado, 31 de janeiro de 2009

1959

Vi que os seus olhos são reais, assim como as suas mãos e as suas pernas. Olhei para o seu rosto e percebi que ele era real. Eu não pude ver os seus pés, mas tenho certeza de que também são reais. Sinto a falta de um ombro amigo, sinto a falta de flores, de sementes e rosas. Tem gente que não parece ser humana. Gente que joga feitiços, gente que tem um apelo hipnotizante. E ele bem sabe de tudo isso. Disseminam paixões desmedidas, mas se mostram incapazes de sentir um mínimo grau de apego, de ternura, e tratam o amor como um jogo de fantoches controlados pelo gelo, pelas pedras, por cetros, coroas e cadeados. Por isso anseio pelo seu rosto real, a abrigar olhos também reais, e percebo que o real é a essência das mais turvas fantasias. Ele pode ser o que for. Pode me matar de sofrer. Cega e enfeitiçada, um brinquedo para os dias menores, um enfeite particular. Que o faça. Mesmo assim. Seu encanto é mais poderoso, pois você tem todo o tempo todo do mundo para me enfeitiçar. Você não faz o mundo desabar todas as manhãs em que eu acordo com a garganta repleta de lágrimas.

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