domingo, 31 de agosto de 2008

Resumè

Era uma vez, uma pilha de documentos que não serviam para nada. A pilha às vezes saía do prazo, e era necessário reconstruí-la. Três anos se passavam para que o trabalho fosse refeito. Três anos depois, a nova pilha de documentos continuava a não servir para nada. Curiosamente, entretanto, ela era responsável por identificar e catalogar todos os seres. Naturalmente, todos esses seres eram tudo, menos aquilo que constava em suas respectivas pilhas. Muitas expectativas foram geradas, e os seres há muito já não lutavam contra tão sinistro condicionamento, e passaram a se identificar com o conteúdo de suas pilhas. Perversos disfarces e sutilezas entrecortavam suas vidas cheias de sonhos. Sonhos de um ventre amordaçado, baseados em documentos, e que, conseqüentemente, não eram realmente seus. Além disso, mesmo quando um deles suspeitava da verdade, ainda assim era necessário manter em dia a sua pilha. Pois seria a tarefa de uma vida convencer todos os outros seres do contrário, e tirar-lhes, a um só golpe, todas as suas certezas, construídas ao longo de séculos e mais séculos de civilização.

Um comentário:

Edu Lazaro disse...

Se não aquele ser que olha e é enxergado na indefinida linha da insegurança ao seguir explicando e tentando compreender, sempre pra si em companhia de paredes brancas e um pincel e tinta também branca em mãos ativas...