sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Um pouco de tudo e ainda mais

Os carros e os ônibus passam muito rápido na madrugada. É preciso correr para alcançá-los. O Sol está nascendo, mas é preciso acenar para o motorista do ônibus. Com um pouco de sorte e bom humor, é possível alcançá-lo. Correr e subir as escadas. Na madrugada. É quase um lampejo. Um despertar. Uma lembrança. Recupero o todo à custa das partes. Dos cinco sentidos legendários, recupero os tremores e espasmos. Teus olhos se confundem com o nariz e a boca. Os cabelos e os olhos e os ouvidos. Os lábios, pernas, e calcanhares. O teu peito e as tuas mãos, e os tremores e os espasmos. Ao mesmo tempo, me é difícil reconstituir cada uma de tuas partes. Os veículos muito rápidos atravessam a madrugada. É preciso convocar o motorista. Por dentro. Sinto calor. Lá fora faz muito frio, mas confundo os teus olhos, e embora eu veja os teus braços, percebo os teus olhos e sinto os teus ombros. Não há tempo. Retorno à madrugada e aceito a novidade turbulenta da vida. Aceito as responsabilidades tortuosas da vida. Nada disso faz sentido agora. Mas não importa. Aceito a importância da falta. Acolho o incógnito. Abraço o estranho. Transmuto-o em êxtase divino. Mergulho em direção à alvorada. Dos cinco sentidos legendários... Os teus braços, tuas mãos, os teus olhos e cabelos. Suspiro com a calma tibetana de um pássaro. Ainda é possível sorrir. Ainda é possível sonhar. Quem diria pensar que sofrerias do medo da solidão... Há tantos anos. Por todos estes anos. As poucas palavras... A solidez de uma rocha. A se esconder por entre enigmas arbitrários. Como poderia! Sigo em paz. Ausente da tua presença. Coberta pelo reflexo da tua alma. Pelas entrelinhas da tua sombra. A caminho de novas vanguardas. A tolerar anacronias... Sigo em paz. Consciente. Dormente. Contemporânea...

2 comentários:

Gu disse...

só mesmo as suas mãos, que culminam na outra ponta - os seus pés - poderiam escrever isso.
aliás, parece que vc escreveu com os pés, que publicou com os pés e que saiu pela culatra.

Edu Lazaro disse...

Tem coisas que mesmo antigas são costuradas no contemporâneo a fazer o uniforme do dia a dia de retalhos de um sonho repartido no prato de cada hora aos talheres dos sorrisos na lembrança.