sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rainha de Ouros

Mãe, eu falhei novamente. Por muitos anos à rica segui os seus preciosos ensinamentos, e até mesmo rezar eu rezava. Ao me levantar e perceber que estava viva e ao deitar com a certeza de que tudo poderia ser corrigido no próximo dia. Por mais que assim me tivesse ensinado, sempre achei distante e desfocada a imagem de um Deus justo, bondoso e soberano. E de repente eu O imaginava no corpo de uma mulher madura e sedutora, com os cabelos ao vento a se banhar numa fonte cristalina. Ela era a minha melhor amiga, mas eu sequer a conhecia. Ela iria me salvar da maldade de todas as outras mulheres que zombavam de mim. Porque eu não sabia como me portar, eu não sabia. Como me vestir. Nem quando fazia as três principais refeições do dia em frente do espelho. Eu me perdia nas ruas, e não sabia fazer compras no mercado. Eu não sabia, mãe, eu não sabia se queria saber. Nada daquilo era vida, eu não entendia a importância da terra, mesmo quando sonhava com o seu corpo despido a se encostar sobre as folhas que caíam das árvores no outono. Quando pela primeira vez eu percebi que não seria mais possível adiar o encontro com o chão, o fiz no escuro. Eu não sabia que eu não poderia mais voltar. Acredite mãe, eu não sabia. E escondia os meus segredos sem saber que em nada aquilo alterava a inocência dos meus pensamentos. Eu não sabia o que estava fazendo. Eu não sabia, não.

3 comentários:

ACT disse...

A Imperatriz e a filha, de joelhos. Confessionário.

ACT disse...

Mudou de naipe.

This is me disse...

Amei este texto, tocante como a autora!!! Congrats young lady!!!