segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Imperatriz

Já tive muita raiva. Exasperava. Fugiria para o Himalaia caso pudesse. Subiria aos céus. Desceria aos malogros da terra roxa. Eu não saberia, não entenderia para onde deveriam os ares me levar. Mas não. Em momento algum desejei sumir contigo. Irava tal pimentão. Chorava de ranger cartilagens, não dormia antes de ver pus e sangue pingando das mãos. Ilusões dissipadas pelos sonhos e pela noite. E ao me olhar, olhava-te, e tinha a certeza de que a genética era parte dos astros e do cosmos e de que eu nunca poderia me separar de ti. Bem sei que estás a milhas de meu humilde condado. O aluguel está atrasado, faltam-me os ingredientes essenciais para que eu possa cozinhar a receita da vida. Mordo-a, e sinto-a crua. Muitos anos se passaram em vão. Gira a roda estéril que não nos tira do chão. O desgaste a que fora submetida te faz pensar que não sinto a falta do teu calor. Sinto que tuas mãos estão frias, tuas bochechas estão congeladas, teus braços estão trancados, e teu peito envenenado. Acusa-me de ter roubado de ti o fogo. Acuso-te de ter roubado o fogo de ti mesma. Não sei como te explicar. Um olhar bastaria, já que eu não poderia abraçá-la sem trincar o gelo das tuas pálpebras. Pois às vezes sinto que as calotas polares derreterão muito antes da tua Fortaleza.

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