domingo, 2 de novembro de 2008

Naerto:

Não penses que as flores já morreram e que o verão não voltará. Estás imerso no caos e na cobiça dos fracos, mas nada te pode abalar. Nos primórdios deste grande espetáculo, vermes rastejavam no jardim, e o quintal flutuava como bolhas de sabão ao luar exagerado de um jogral. Nada existe além de penas e pernas, tinta fria e automóveis e pés de feijão que ainda não germinaram. Sente tu a vida e acredita na exatidão dos pólos. Agarra-te ao vento e aos faróis do oceano. Reflete o ócio e a brisa. Que poderias a mais desejar enquanto o mundo está, sereno, a se acabar?!... Converte-o em amplidão. E nada te faltará. A porta continua aberta, e não precisas esfregar os teus pés embriagados antes de entrar. Traga apenas a tua presença – inteira e absoluta, e verás que a revolta dos mares é apenas a amplitude dos pólos. Tudo o que sentiste em meio ao pavor de dias e noites intermináveis, tudo isso é amar o que quase se pôde alcançar. Se soubesses o quanto te estimo, sei que ainda assim estarias junto aos anjos andarilhos do norte escuro. Entretanto, talvez ao menos eu tivesse a certeza de que estarias em paz. Olho por ti, Naerto, a última estrela do céu, morta e exposta às multidões por anos e anos e desertos. Serias feliz?!...

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